Experiências ao redor do mundo apontam caminhos para redução do lixo
A preservação ambiental é uma questão global, mas que ganha materialidade nas cidades. É nelas que os impactos se revelam mais nitidamente como, por exemplo, por meio da poluição, de enchentes. É nas cidades também que polÃticas públicas podem ser desenvolvidas para mudar hábitos e, assim, a situação global. Um dos desafios mais urgentes é a grande quantidade de lixo: plásticos, pneus, eletrônicos e outros objetos tão comuns à vida moderna têm lotado aterros sanitários e gerado problemas ambientais e para a saúde humana.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), dos 5.561 municÃpios brasileiros, menos da metade (2.751) declaram ter planos de gestão integrada de resÃduos. Para mudar esse cenário e caminhar para uma polÃtica de lixo zero, que consiste no máximo aproveitamento e correto encaminhamento dos resÃduos recicláveis e orgânicos, especialistas de todo o mundo debateram o tema no Congresso Internacional Cidades Lixo Zero, realizado nesta semana, em BrasÃlia.
Europa
Da cidade de Hernani, um municÃpio da Espanha na provÃncia de Guipúscoa, na comunidade autónoma do PaÃs Basco, foi apresentada uma experiência de interação entre poder público e sociedade para reduzir a produção do lixo e estÃmular o tratamento adequado dos resÃduos. A mudança começou com a abordagem da coleta seletiva “porta a portaâ€, de acordo com o gestor público Luis Intxauspe. Ele conta que entre as ações adotadoas para se chegar ao lixo zero estão a separação dos resÃduos na origem, a coleta diretamente na casa das pessoas, a efetivação de projetos de compostagem, a ampliação das ações de reciclagem e polÃticas de ciclo zero, voltadas ao reaproveitamento dos materiais.
Nas áreas comuns, como parques, praças e mesmo em condomÃnios, foram instalados recipientes para coleta seletiva e, inclusive, de produtos especÃficos como o azeite. Há também distribuição gratuita de sacolas reaproveitáveis. Como resultado disso, a comunidade, que reciclava 30% do lixo que produzia, passou a reciclar 80%. A cultura da própria população tem sofrido transformações. “Nós reduzimos em cinco vezes o material que vai para o aterro sanitárioâ€, comemora Intxauspe, que detalha que a população de Hernani produz, em média, 60 quilos (kg) de lixo por ano, por habitante. Em geral, a média de municÃpios semelhantes é de 200 kg.
América Latina
Outra experiência compartilhada no congresso vem da América Latina. A colombiana Sandra Pinzón, integrante do coletivo Bogotá Basura Cero (Bogotá Lixo Zero, da tradução livre para o português), conta que em seu paÃs, a taxa de reciclagem é muito baixa, de apenas 17%. Uma das formas de avançar para outra lógica foi a partir da certificação de empresas que praticam boas práticas.
O processo de certificação envolve quatro etapas: aspectos gerais da polÃtica de resÃduos de cada grupo; transversais, que considera a relação com outras ações; especiais, que remonta ao tipo de negócio desenvolvido; e a apresentação de um relatório anual. Pinzón destacou que o relatório é um instrumento importante para garantir visibilidade, inclusive para organizações ambientalistas, sobre o que está sendo feito com os resÃduos. “Não se trata de algo para proteger as marcasâ€, contou.
Leste europeu
Já na Eslovênia a situação é bem diferente: a capital Liubliana foi escolhida, em 2016, a capital verde da Europa. Atualmente, menos de 5% do lixo produzido na cidade vai para aterros. Todo o resto é reaproveitado. Diretor da empresa pública Snaga, maior empresa de gestão de resÃduos do paÃs, Janko Kramzar explica que a polÃtica de lixo zero depende, em primeiro lugar, de uma eficiente coleta seletiva de materiais. Além disso, outras ações, como uma intensa comunicação com a sociedade, também são importantes.
Kramzar defende que é importante estabelecer regulamentações sobre o tema, bem como ações de envolvimento de gestores, já que as polÃticas dependem de investimento financeiro e não são revertidas, necessariamente, ao longo de um mandato. Para paÃses como o Brasil, ele indicou: “não adianta copiar modelos. Você vai ter que adaptar o sistema, porque temos diferenças em todos os lugares do mundo: diferenças econômicas, diferenças culturais e sociaisâ€.
Um caminho para a solução dos problemas relacionados com o lixo já reconhecido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) brasileiro é apontado pelo PrincÃpio dos Três Erres (3R’s) – reduzir, reutilizar e reciclar. O desafio é grande, mas necessário. De acordo com o presidente do Instituto Lixo Zero Brasil (ILZB), Rodrigo Sabatini, “não existe nenhuma mudança que a gente possa provocar nesse meio ambiente se ela não começar pelo lixo zero, se ela não começar pela genteâ€
Fonte: Agência Brasil.