Expedições à Amazônia identificam 12 novas espécies de animais
Em duas expedições à Amazônia, pesquisadores de São Paulo coletaram animais de pelo menos 12 espécies ainda não catalogadas de sapos e lagartos, além de uma coruja sem descrição cientÃfica. Ao todo, o grupo liderado pelo zoólogo da Universidade de São Paulo (USP) Miguel Trefaut Rodrigues trouxe para análise mais de 1,7 mil exemplares de mais de 200 espécies diferentes de animais e plantas.
A última viagem ocorreu de abril a maio, quando o grupo viajou cerca de 80 quilômetros a partir de Manaus (AM) pelo Rio Negro até o municÃpio de Santa Isabel, próximo à região onde ocorre o encontro com o Rio Branco. “Passamos um mês dormindo em redes dentro do barco, onde também fazÃamos todas as refeições e montamos nosso laboratório. Em cada ponto diferente do rio era necessário contratar um guia local. O Rio Negro é cheio de pedras e é muito fácil acontecer um acidenteâ€, contou Rodrigues.
Segundo o pesquisador, por ter águas muito ácidas, o Rio Negro não abriga tantas espécies de animais, como outras partes da floresta. Por isso, o grupo se aproximou do afluente. “QuerÃamos estudar a influência das águas do Rio Branco na diversidade e abundância de espéciesâ€, enfatizou o pesquisador. A expedição também recolheu dados para avaliar a influência do Rio Negro como barreira para o trânsito de espécies. “Por isso coletamos em ambas as margensâ€, acrescentou.
Foram usadas armadilhas com baldes e lonas de plástico para capturar principalmente répteis e anfÃbios. Nessa viagem foram coletados mais de mil animais, um número necessário para atender a demanda da pesquisa que busca entender a origem dos lagartos do gênero Loxopholis que se reproduzem assexuadamente. Algumas espécies desse tipo são formadas apenas por fêmeas.
Pico da Neblina
A primeira expedição foi realizada entre outubro e novembro de 2017, na região do Pico da Neblina, na fronteira com a Venezuela. Como parte da montanha está em território indÃgena Yanomami, os trabalhos tiveram autorização da Fundação Nacional do Ãndio (Funai) e apoio do Exército.
A biodiversidade da região é muito diferente da encontrada em outras partes da floresta, se aproximando até das plantas e dos animais encontrados na Cordilheira dos Andes. “Sabemos que em altitudes superiores a 1,7 mil metros prevalecem paisagens que não têm absolutamente nada a ver com a Amazônia atual: são campos abertos e com clima muito mais frio que o da florestaâ€, explicou Rodrigues.
Foi entre os espécimes coletados nessa ocasião que foram identificadas as 12 espécies sem descrição cientÃfica e uma nova variedade vegetal. O conjunto de plantas ainda está, no entanto, sob análise de especialistas.
Relações evolutivas
Além da descrição dos novos animais, o material obtido será usado para analisar os padrões evolutivos da fauna da América do Sul. “Vários grupos de animais estão sendo estudados sob o ponto de vista genético, morfológico e fisiológico. Alguns desses estudos ajudarão a avaliar o risco de extinção dessas espécies caso a temperatura desses locais se eleve nos próximos anosâ€, ressaltou o lÃder das expedições.
Cada uma das viagens durou cerca de um mês, com o envolvimento de pelo menos dez pesquisadores. Os trabalhos foram financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Fonte: Agência Brasil.